Delator do PCC recusou proteção à testemunha para ‘manter estilo de vida’
Escrito por Jornalismo Nativa em 12 de Novembro, 2024
Gritzbach mencionou ao MP que tinha capacidade para custear sua própria proteção. “O Ministério Público ofereceu reiteradamente a inserção de Vinícius no programa de proteção destinado a réus colaboradores”, esclareceu o promotor de Justiça em entrevista à GloboNews nesta segunda-feira (11). O acordo de delação premiada de Vinícius havia sido firmado em março deste ano.
“Na presença de seus advogados, ele recusou o ingresso nesse programa, mesmo ciente dos riscos, alegando que poderia pagar por sua própria segurança”, afirmou o promotor de Justiça Lincoln Gakiya.
Sobre o crime – além de Vinícius, um motorista de aplicativo também foi vítima. O colaborador afirmou que o programa não se encaixava em seu estilo de vida. “Ele também dizia que [o programa de proteção a testemunhas] não correspondia ao seu modo de viver e ao que ele considerava adequado para essa colaboração, que envolvia romper todos os laços com sua vida anterior, inclusive qualquer conexão com o crime”, explicou o promotor Lincoln Gakiya.
A defesa de Gritzbach confirmou a decisão de não aderir ao programa. O empresário buscava escolta policial. “Ele recusou por diversas vezes ingressar no programa. O que ele desejava era um tipo de escolta policial, para a qual não há previsão legal”, explicou Gakiya.
O programa de proteção à testemunha exige uma mudança completa de vida. O MP ofereceu a Vinícius Gritzbach o suporte do Provita (Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas). Para participar, é necessário seguir algumas regras. “Ele precisa se comprometer a não ter vínculos com sua vida anterior. Receberá um novo nome, novo endereço e mudará de estado”, declarou Gakiya em entrevista ao Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes.
Criado em 1999, o programa de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas atende a demandas em todo o território nacional. Segundo o governo federal, atualmente cerca de 500 pessoas, entre testemunhas e seus familiares, estão sob proteção.
Gritzbach contratou uma escolta privada formada por policiais militares da ativa. Os quatro PMs envolvidos foram afastados de suas funções.
O MPSP descreveu Gritzbach como um “arquivo vivo” em relação ao PCC. O promotor Lincoln Gakiya explicou que a delação do empresário foi aceita devido à estreita relação que ele mantinha com a facção criminosa.
“Ele era uma pessoa que conviveu com líderes do PCC, sabia detalhadamente onde o crime organizado, especialmente o PCC, lavava dinheiro. Ele era um arquivo vivo, sem dúvida”, afirmou Gakiya em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo.
Gakiya enfatizou que Gritzbach obteve enriquecimento ao lavar dinheiro para o PCC, algo que ele confessou em tribunal. “Ele auxiliou na lavagem de dinheiro para criminosos do PCC na área da construção civil, onde atuava como corretor e prosperou, utilizando nomes de laranjas para registrar imóveis em nome de terceiros.”
O empresário estava prestes a realizar uma segunda delação que envolveria agentes da Polícia Civil de São Paulo, que teriam vínculos com o PCC, conforme informações da promotoria. Uma semana antes de sua morte, Gritzbach fez uma denúncia à Corregedoria da PCSP, alegando que policiais retiraram uma caixa com relógios de luxo de sua casa durante sua prisão, dos quais cinco relógios não foram devolvidos. Segundo o empresário, um desses relógios foi visto no pulso de um policial em fotos publicadas nas redes sociais, que foram apagadas após a denúncia.
A promotoria esclareceu que o conteúdo desse depoimento de Gritzbach “ainda está sob investigação pela Corregedoria”. “O Ministério Público acompanhará e colaborará no que for necessário para que esse caso seja esclarecido o mais rapidamente possível”, concluiu Gakiya.