Indústria do babaçu impulsiona renda e sustentabilidade no Maranhão
Escrito por Jornalismo Nativa em 5 de Novembro, 2025
“Quem diria que um dia nós íamos falar para o mundo?”. A exclamação de Maria Leonarda Brandão, 59 anos, quebradeira de coco babaçu, resume a transformação vivida por dezenas de famílias do povoado Centro do Chico, em Coroatá (MA). Na região dos cocais, a mecanização da quebra do babaçu, implantada pela startup Apoena, tem mudado a realidade socioeconômica das comunidades locais e aberto caminhos para um modelo de desenvolvimento sustentável com destaque internacional. As informações são do Sebrae e Amazônia Vox.
Há seis anos, as quebradeiras de coco trocaram o trabalho árduo e manual pela coleta e venda do fruto inteiro à indústria. A mudança garantiu aumento de renda e mais qualidade de vida. “A dificuldade nossa era muito grande no mato, passando o dia inteiro quebrando coco no sofrimento para ganhar muito pouco pelo quilo da amêndoa limpa. A gente só juntando e entregando o coco inteiro para a fábrica é muito melhor. Nós conseguimos produzir e ganhar mais”, contou Antônia Raimunda Honorato, uma das quebradeiras beneficiadas.
Mesmo quem vivia de diárias na lavoura hoje vê no babaçu uma nova fonte de renda. “Aqui, raramente, aparece uma semana para ter duas, três diárias. E com essa renda dos cocos, no decorrer do mês, eu pego uma renda boa. Dá para pagar alguma conta, comprar algum alimento para dentro de casa, e desafogou mais”, relatou o lavrador Antônio da Silva Silveira.
Aproveitamento integral do fruto
O babaçu, antes utilizado quase exclusivamente pela amêndoa, ganhou nova importância com a inovação industrial. O epicarpo, camada externa do fruto, agora serve para produzir adubo, carvão e biocombustíveis. Já o mesocarpo é matéria-prima para farinha, cosméticos e bioativos, e o endocarpo, a parte mais dura, se transforma em carvão ativado — usado no tratamento de desconfortos abdominais e na purificação da água.
A administradora e empresária Márcia Werle, CEO da Apoena, percebeu o potencial do babaçu para impulsionar a bioeconomia da região. “A pessoa que me apresentou o coco mostrou a nobreza dele e disse que daria para se produzir vários produtos a partir dele. Ela falou que desse coco, de onde só aproveitava 6%, que era a amêndoa”, relembrou.
Com apoio técnico e parcerias locais, Márcia apostou na mecanização da quebra e separação do coco. “A experiência que a gente tem trabalhando com as comunidades e conversando com elas é que, em um dia, elas conseguem coletar uma tonelada de coco, e isso representa uma boa renda”, afirmou.
Expansão e apoio institucional
Desde o início das operações, em 2019, a Apoena já processou mais de 268 toneladas de coco babaçu. A empresa comercializa produtos como óleo extravirgem, massa de babaçu, cosméticos, bebidas naturais e bioativos para diesel, principalmente pela internet. A startup participou dos programas Inova Amazônia e Inova Cerrado, promovidos pelo Sebrae, que também fornece consultorias por meio do Sebraetec e apoia a exposição dos produtos em feiras nacionais.
“Já trabalhamos o desenvolvimento de embalagens, com especialistas ajudando na identidade visual dos produtos, acesso a novos mercados e investidores. Tudo isso fortaleceu o crescimento da empresa”, explicou Stênio Pinheiro, gerente regional do Sebrae em Caxias (MA).
Babaçu na COP30
O projeto de Coroatá será apresentado ao mundo na COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, em Belém (PA). Segundo a Embrapa, o Maranhão concentra cerca de 8 milhões de hectares de coco babaçu, sendo o estado com a maior população que depende da extração do fruto.
O destaque da Apoena será o bioativo para diesel, um aditivo natural e renovável produzido a partir do babaçu, capaz de reduzir em até 15% o consumo de combustível e as emissões de CO₂. O produto já é testado em fazendas e começa a ganhar espaço no mercado. “Vamos mostrar todo o potencial do babaçu e dos nossos produtos, em especial o bioativo para diesel. É uma oportunidade para que as pessoas conheçam o babaçu como um bioativo da Amazônia, que faz a diferença na redução das mudanças climáticas”, disse Marco Antônio Silva, diretor de produtos da Apoena.
Desenvolvimento local e preservação
A indústria do babaçu tem fortalecido a economia de Coroatá. “Eu tenho certeza que todos esses produtos, com a indústria sendo aqui, vão gerar renda, fomentar a economia e trazer desenvolvimento para nossa cidade”, avaliou Jaciara Póvoa de Sousa, secretária municipal de Indústria e Comércio.
Já a quebradeira Maria Leonarda Brandão, hoje também funcionária da fábrica, reforça que o avanço econômico deve caminhar junto com a preservação ambiental. “A gente está vendo que as coisas estão ficando mais difíceis, porque o pessoal desmata muito. Eu espero que entendam que não é destruindo as coisas que vão para frente. Eles realmente têm que cuidar para a gente ter um futuro melhor”, afirmou.
Nativa FM Itinga 88,5