Mulheres convocam levante nacional contra o feminicídio
Escrito por Jornalismo Nativa em 6 de Dezembro, 2025
A sociedade civil brasileira se une em um chamado urgente pela vida das mulheres. No próximo domingo, dia 7 de dezembro, diferentes estados e municípios irão participar do Levante Mulheres Vivas, uma grande mobilização nacional que nasce da indignação diante do crescimento alarmante das violências cometidas diariamente contra mulheres no Brasil.
O movimento ganha força após uma série de casos brutais recentes. Entre eles, o de Tainara Souza Santos, 31 anos, atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro por um ex-ficante em São Paulo, agressão classificada como tentativa de feminicídio (29 de novembro).
Também repercutiram amplamente os assassinatos de Isabely Gomes de Macedo, de 40 anos, e seus filhos de sete anos, quatro, três e um ano, vítimas de um incêndio provocado pelo marido em Recife (29 de novembro). No Rio de Janeiro, as funcionárias do Cefet-RJ Allane de Souza Pedrotti Matos e Layse Costa Pinheiro foram assassinadas por um colega de trabalho que se recusava a aceitar a liderança de mulheres.
Somente em 2024, o Brasil registrou 1.450 feminicídios, um aumento de 12% em relação ao ano anterior e o maior número já registrado desde a criação da lei que tipifica o crime. Isso significa que quatro mulheres foram mortas por dia, vítimas de violência de gênero. Os dados oficiais também mostram milhares de casos de agressões físicas, psicológicas, tentativas de feminicídio, ameaças e abusos. Muitos deles nunca chegam às estatísticas por subnotificação.
“Este é um ato orgânico, que nasce do nosso luto coletivo como mulheres assistindo à chacina diária de mulheres no Brasil, finalmente exigindo visibilidade à emergência nacional que é o feminicídio”, afirma a atriz Rachel Ripani, que está à frente do movimento juntamente com a atriz e roteirista Livia La Gatto.
Além delas, um grupo de mulheres compõem a coordenação nacional do ato, como a empresária e ativista das causas de igualdade racial Elizabete Scheimayr, pela documentarista, produtora e ativista de direitos humanos Luciana Sérvulo da Cunha, pela advogada Alice Ferreira e pela especialista em Acessibilidade, Diversidade e Inclusão Luciana Trindade.
O movimento Mulheres Vivas começou com um vídeo de Ripani falando sobre uma manifestação pelas vidas das mulheres na África do Sul; esse post teve muito alcance entre mulheres, pedindo alguma ação. Em seguida, Ripani e La Gatto tiveram a ideia de criar uma manifestação a partir dessa ideia. Em dois dias, o movimento já somava mais de 20 mil seguidores no instagram e cinco mil mulheres engajadas por whatsapp e organizando o Levante Mulheres Vivas, em mais de 20 capitais do país.
Especialistas têm alertado que o país vive uma verdadeira epidemia de violência de gênero, com necessidade urgente de políticas estruturais de prevenção, proteção e resposta efetiva. A escalada da violência também evidencia fortes recortes de raça e classe, atingindo de forma ainda mais severa mulheres negras, historicamente vulnerabilizadas.
Apesar de avanços legais, como a Lei Maria da Penha, reconhecida pela ONU como uma das mais importantes legislações do mundo no enfrentamento à violência doméstica, a rede de proteção frequentemente falha em chegar a tempo ou de maneira eficaz. Diante desse cenário, cresce a demanda para que o Estado reconheça a misoginia como crime específico, tratada como questão jurídica e institucional prioritária. Maria da Penha, que deu origem à lei, é uma das apoiadoras oficiais do movimento Mulheres Vivas.
Pauta Nacional de Referência
A mobilização também apresenta uma Pauta Nacional de Referência, construída coletivamente por mulheres de diversas cidades e que reconhece o feminicídio como emergência nacional. Organizada em oito eixos estratégicos, a pauta foca exclusivamente no enfrentamento à violência contra mulheres e meninas:
- I — Delegacias da Mulher 24h e Atendimento Especializado; implantação das Casas da Mulher Brasileira
- II — Casas-Abrigo e Acolhimento Imediato
- III — Resposta Rápida no Sistema de Justiça
- IV — Autonomia Imediata para Mulheres em Risco
- V — Proteção Integral a Filhos e Filhas de Mulheres em Violência VI — Paridade Feminina Obrigatória no Poder Público e Judiciário
- VII — Regulação das Plataformas Digitais e combate ao ódio e violência online
- VIII — Orçamento obrigatório e cumprimento integral da Lei Orçamentária.
O documento completo encontra-se disponível para consulta e adesão, aqui.
Adesão de artistas e personalidades públicas
O movimento conta com a adesão de artistas e personalidades de projeção nacional, que decidiram se posicionar diante da escalada da violência contra mulheres no Brasil. Ana Hickmann, Daniela Mercury, Miguel Falabella, Isabel Fillardis, Mateus Solano, Herson Capri, Paulo Betti, Samuel de Assis, Maria Gal, Marjorie Estiano, Alessandra Negrini, além de Maria da Penha, entre outras figuras públicas, somam suas vozes para ampliar o alcance e a urgência da mobilização nacional.
O Ato Mulheres Vivas é uma mobilização nacional que convoca todas as mulheres do país: artistas, ativistas, trabalhadoras, mães, jovens, idosas, mulheres negras, indígenas, periféricas, trans, rurais e urbanas, além de homens aliados dispostos a somar na luta por dignidade e justiça. As atividades acontecerão simultaneamente em diversas cidades, com manifestações públicas, intervenções artísticas, leitura de manifestos, homenagens às vítimas e mobilização digital.
O levante Mulheres Vivas representa um momento histórico de união nacional frente à violência que atinge mulheres de todas as regiões, idades e classes sociais. A mobilização exige urgência, compromisso institucional e participação ativa de toda a sociedade para que a vida das mulheres seja tratada como prioridade absoluta.
Para mais informações, acesse as redes sociais: https://www.instagram.com/levantemulheresvivas/
Nativa FM Itinga 88,5