COP-30: Ministro viaja a Belém em meio a críticas

A menos de cem dias da abertura da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que será realizada em Belém (PA), o governo federal tenta conter o desgaste sobre os preparativos do evento. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), interrompeu sua agenda e viajou à capital paraense neste fim de semana com o objetivo de inspecionar as obras e responder às críticas crescentes sobre infraestrutura e preços de hospedagem.

A visita emergencial ocorre em meio à pressão de representantes internacionais, que já manifestaram desconforto com o valor elevado das diárias e com a estrutura local. Um grupo de 27 países chegou a assinar uma carta alertando para as deficiências logísticas de Belém, gerando temor de que o encontro climático pudesse ser transferido para outra sede.

Durante sua passagem pela cidade, Sabino reconheceu falhas, mas defendeu o esforço do governo. O ministro disse que o governo está eliminando “qualquer argumento” contra a realização da COP em Belém. No entanto, ele admitiu que houve um “delayzinho” — expressão usada por ele — no lançamento da plataforma de hospedagem desenvolvida pelo governo, prometida desde fevereiro e só disponibilizada na sexta-feira (1). A plataforma passou a oferecer, inicialmente, 2,7 mil quartos em hotéis, residências e apartamentos privados.

O ministro explicou ainda que novos empreendimentos hoteleiros, erguidos especialmente para a COP30, deverão ser entregues nos próximos meses. Um deles deve entrar em funcionamento já em outubro, a tempo do Círio de Nazaré, tradicional celebração religiosa que atrai milhares de turistas à cidade. Ele garantiu: “ninguém ficará sem quarto”.

Sabino minimizou as reclamações sobre tarifas abusivas, apesar de casos como o de um hotel que multiplicou por 80 o valor da diária após trocar o nome para “Hotel COP30”. “Você chega em Paris e tem hotel que cobra uma fortuna e é bem ‘chinfrim’, não tem nem banheiro. Isso é exceção”, disse.

Enquanto o governo promete diárias a partir de R$ 450 pela plataforma oficial, Sabino informou que grandes redes hoteleiras devem oferecer acomodações que variam entre R$ 1,5 mil e R$ 10 mil. Como alternativa para delegações de países com menor poder aquisitivo, está prevista a disponibilização de 6 mil leitos em dois navios de cruzeiro que ficarão atracados no porto da cidade, com tarifas mais acessíveis.

O ministro assegurou também que obras de mobilidade urbana e melhorias no aeroporto estão dentro do cronograma. No entanto, suas declarações contrastam com a avaliação feita pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que criticou duramente o aumento repentino nos preços das hospedagens.

“O que está acontecendo, como disse o embaixador Corrêa do Lago (presidente da organização da COP-30), é um verdadeiro achaque”, afirmou Marina durante a Feira Literária de Paraty, a Flip. “Não podemos aceitar que os países mais vulneráveis, preocupados com o futuro de suas existências, não possam participar de uma das COPs mais importantes da nossa história”, completou.
Fonte: Jornal ‘O Globo’