Crise do açaí persiste com chegada do verão amazônico
Escrito por Jornalismo Nativa em 15 de Junho, 2025
Alerta sobre abastecimento no Pará apontam que, mesmo com boa expectativa de colheita, exportação e falta de política pública seguem pressionando o consumo local no Pará
Por Igor Mota / O Liberal
O “ouro negro da Amazônia” chegando à Feira do Açaí, na madrugada (Igor Mota / O Liberal)
O verão amazônico marca o início de uma nova safra de açaí no Pará, mas os desafios estruturais no abastecimento interno do fruto ainda preocupam produtores, pesquisadores e economistas. Mesmo com o aumento da oferta previsto para os próximos meses, o mercado segue pressionado por altos preços, ausência de estoques reguladores e desequilíbrio entre consumo local e exportação.“A competição acontece do meio para o final da safra, porque todos começam a precisar do fruto, o que acaba desbalanceando um pouquinho essa disputa”, diz Nathiel Moraes, diretor de pesquisas do Instituto Açaí é Nosso. Ele reforça que o problema não é apenas climático. “Durante o pico da safra, não. Tem muita demanda e muita oferta”, pontua.
Nathiel Moraes, diretor de pesquisas do Instituto Açaí é Nosso (Ozéas Santos / Alepa)
A avaliação é compartilhada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese/PA). “A crise do açaí tem uma relação direta com a exportação, os atravessadores e a falta de política pública”, aponta Everson Costa, supervisor técnico do órgão. Para ele, a ausência de ferramentas como o congelamento artesanal impede uma resposta equilibrada à entressafra. “O estoque regula preço em períodos de menor oferta. Quando você tem um estoque, você devolve isso para o mercado e pode trabalhar com preços mais equilibrados”, defende.
Costa informa que os preços devem cair no segundo semestre, mas não com a mesma força com que sobem.
“A gente consegue perceber quedas de 10% a 15% em alguns casos. Já passou da hora do estado do Pará ter um organismo, um órgão público, algo que possa ter uma fala e uma linha direta de ação para esse produto”, frisa.
Everson Costa, técnico e pesquisador do Dieese-PA, confirma que além dos tradicionais produtos da época, outros que também fazem parte do preparo das comidas típicas da quadra junina também estão mais caros
Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA (Divulgação)Entre as soluções propostas, Moraes cita o avanço de pesquisas tecnológicas. “Temos uma pesquisa que desenvolveu um biogel que protege o fruto do açaí por uma safra inteira”, relata. Ele também defende o que chama de “defeso do açaí”, para garantir a demanda interna. “Isso impediria que houvesse aumentos abusivos”, menciona.A expectativa positiva para a nova safra, no entanto, é real. “Esperamos que os impactos que aconteceram nas últimas duas entressafras não prejudiquem essa safra”, comenta Moraes.
Apesar do otimismo, ele alerta para a instabilidade do clima. “Estamos em junho, ainda está tendo muitas chuvas. Isso é bom para um lado, mas também é ruim para o outro”, pondera.
As mudanças no regime de chuvas e sol impactam diretamente o ciclo da palmeira. “Aquelas [regiões] que conseguirem ter o melhor manejo e o menor estresse hídrico, são as que vão ter melhor produtividade”, explica. Entre as áreas com boas perspectivas, ele cita o Baixo Tocantins, o Marajó e o Acará.
No campo, verão amazônico reaquece a produção rural e favorece a logística
Enquanto isso, a chegada do verão amazônico também movimenta o restante do setor agropecuário. “Esse período afeta bastante a rotina do planejamento, tanto na agricultura como na pecuária”, explica Guilherme Minssen, diretor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). “Na agricultura, nós começamos a preparar as safras que vão se colher já no final do ano. Na pecuária, estamos colhendo os últimos bezerros nascidos depois do inverno no Marajó. E é agora que começa a parte da inseminação na grande maioria dos locais”, detalha.
Guilherme Minssen, diretor técnico da Faepa
Guilherme Minssen, diretor técnico da Faepa (Wagner Santana / Arquivo O Liberal)Segundo Minssen, a previsão de produção é otimista. “A estimativa é muito boa. O campo paraense está bastante motivado para trabalhar”, afirma. Ele informa que os dados detalhados da safra ainda estão sendo colhidos pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap).
Na pecuária, destaca-se também a retomada dos leilões de cavalo no estado neste mês de junho.No caso do açaí, a Faepa aposta em inovações para impulsionar a produtividade. “Principalmente o açaibot, que é um robô para apanhar açaí e começou a ser apresentado no Festival do Açaí, no Hangar. Essa é a grande novidade: a próxima safra já vai ser apanhada por robô”, garante.
‘Açaibot’ é um robô apanhador de açaí que deve ser a grande novidade da safra em 2025
‘Açaibot’ é um robô apanhador de açaí que deve ser a grande novidade da safra em 2025 (Divulgação / Açaí Kaa)O equipamento foi desenvolvido por uma empresa paraense de inovação e é o primeiro robô desenvolvido para a colheita mecanizada do açaí em larga escala. Operado por controle remoto, o açaibot é capaz de colher mais de 100 cachos em uma manhã, multiplicando a produtividade em até 10 vezes, além de reduzir o risco de acidentes causados pela peconha, método tradicional de extração do fruto.