COP 30 buscará construção de novo modelo de civilização
Escrito por Jornalismo Nativa em 8 de Novembro, 2025
Desde quinta-feira, 6 de novembro de 2025, Belém se transforma, por duas semanas, no centro das atenções do planeta. A COP 30 reúne um número recorde de delegações, dezenas de chefes de Estado e uma participação popular intensa. O presidente Lula transfere o governo para a capital paraense, simbolizando o compromisso do Brasil com a Amazônia e com o futuro do clima global.
Nas três zonas da conferência — Azul, Verde e Amarela (esta última dedicada às atividades paralelas e à mobilização da sociedade) —, os debates serão intensos. Mas o que está em jogo vai muito além da crise climática: trata-se da construção de um novo modelo de civilização, capaz de atender aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e garantir um futuro digno às próximas gerações.
O modelo socioeconômico atual, que nos trouxe até aqui, mostra sinais evidentes de esgotamento. Ele concentra renda de forma obscena, aprofunda desigualdades e consome, a um ritmo insustentável, os recursos finitos do planeta.
“Enfrentar a emergência climática é, portanto, apenas o primeiro passo. O verdadeiro desafio é repensar nossas formas de produzir, consumir e viver — e, sobretudo, redefinir o que entendemos por progresso“.
Os 5 eixos essenciais que precisam ser enfrentados
-Promover uma transição justa e acelerada dos combustíveis fósseis para energias sustentáveis, reorganizando as bases produtivas para que as economias de baixo carbono se tornem a regra — e não a exceção — em todas as regiões do planeta.
-Zerar o desmatamento das florestas tropicais até 2030, garantindo mecanismos robustos e permanentes de proteção, monitoramento e valorização desses ecossistemas essenciais ao equilíbrio climático global.
-Consolidar instrumentos eficazes de financiamento climático, assegurando que países em desenvolvimento disponham de recursos suficientes para realizar sua transição energética e cumprir metas de mitigação e adaptação.
-Implementar políticas sociais e econômicas de adaptação ao novo clima, com foco especial nas populações mais vulneráveis, que já enfrentam os impactos das mudanças no seu cotidiano.
–Reforçar o multilateralismo. A crise climática não reconhece fronteiras. Apenas uma cooperação internacional forte, baseada em confiança, ciência e acordos vinculantes, permitirá enfrentar um desafio de escala planetária como o aquecimento global.
-Cada país, em suas negociações, concentrará esforços em alguns desses pontos centrais. No caso do Brasil, a preservação das florestas e o fim do desmatamento certamente estarão entre as prioridades, assim como o debate sobre o financiamento climático.
Já os países europeus, pressionados por crises econômicas e pelo aumento dos gastos em defesa, tendem a evitar o tema do financiamento — justamente aquele em que serão mais cobrados pelas nações em desenvolvimento. Por sua vez, os grandes produtores de petróleo buscarão bloquear qualquer avanço nas discussões sobre a redução da exploração e do uso de combustíveis fósseis.
Como se vê, a tarefa que temos pela frente não é apenas difícil: é, em muitos aspectos, uma verdadeira missão quase impossível.
Alguns motivos para otimismo
Ainda assim, há motivos para o otimismo. Vivemos um momento singular na luta contra a mudança do clima. Nos últimos anos, registraram-se avanços expressivos na geração de energias renováveis, na eletrificação dos transportes e na redução do desmatamento em diversas regiões do planeta. Hoje, o custo de produção de energia solar e eólica é, em geral, inferior ao da queima de combustíveis fósseis — o que acelera a transição energética global em ritmo notável, gerando ganhos econômicos.
As emissões globais de gases de efeito estufa começam a dar sinais de desaceleração, com tendência à estabilização nos próximos cinco anos. Países como China e Índia já registram crescimento econômico mais rápido que o aumento de suas emissões — um indício promissor de desacoplamento entre PIB e carbono, marco fundamental rumo a um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
Mesmo assim, as novas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) ainda projetam um aumento médio de temperatura global de cerca de 2,7 °C, muito acima da meta do Acordo de Paris.
Para o Brasil, esse cenário significaria um aumento de 3,5 °C a 4 °C, acompanhado de queda acentuada nas chuvas — combinação que ameaça a produtividade agrícola, amplia o risco de degradação florestal na Amazônia e pode transformar o Nordeste em uma região árida.
Eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes e intensos, e os 8.500 quilômetros de costa brasileira enfrentarão impactos graves com o avanço do nível do mar. É um futuro que precisamos evitar a qualquer custo. Temos que manter a meta do Acordo de Paris, que busca limitar o aquecimento global a 2,0 °C, preferencialmente a 1,5 °C.
‘A principal tarefa da COP 30 é inequívoca: encerrar a era dos combustíveis fósseis e acelerar a transição para uma matriz energética limpa e de baixas emissões em todos os setores econômicos e países‘.
Brasil tem oportunidade histórica de se tornar uma potência energética sustentável
O Brasil, com seu vasto potencial de geração solar e eólica, tem diante de si uma oportunidade histórica de se tornar uma potência energética sustentável — com energia barata, abundante e renovável.
Nenhum país do planeta tem o potencial de geração solar e eólica que temos no Brasil. Podemos colocar nosso país em posição de liderança mundial na produção de energia sustentável e barata.
Podemos liderar essa transformação, deixando para trás a energia do século passado e impulsionando um novo ciclo de desenvolvimento baseado em fontes limpas.
Os cinco pontos elencados no início deste artigo apontam o caminho — e reforçam a urgência de agir, com responsabilidade compartilhada e visão de futuro.
É alentador constatar que o Acordo de Paris continua vivo — e mais do que isso, viável. Não apenas do ponto de vista técnico, mas também do econômico. As tecnologias necessárias para descarbonizar a maior parte dos setores produtivos já existem, estão comprovadas e, em muitos casos, são hoje mais competitivas do que as alternativas baseadas em combustíveis fósseis.
As próximas décadas não serão fáceis. A transição rumo à sustentabilidade exigirá profundas transformações econômicas, sociais e culturais. Mas não há alternativa. O modelo atual é insustentável — e já apresenta sinais de esgotamento, inclusive no curto prazo.
A COP 30 representa, portanto, um ponto de inflexão. É o momento de trabalhar coletivamente pela construção dessa nova sociedade, que una prosperidade e equilíbrio ambiental. A hora de começar é agora — e o caminho passa inevitavelmente por Belém.
Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o texto original.
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